sexta-feira, 25 de março de 2011

Descobri

Descobri. Descobri. Opa... sólida dentro de mim. Descobri. O que eu descobri?  
Curvas abstratas não querem me deixar relatar. Apenas descobri. É o que se basta saber já que nem mesmo meu intimo ousa dizer. É tão intenso... Que vontade de contar! Sabe o que acontece?
Existiu em minha vida um menino. Menino simples. Profundo conhecedor do abstrato. Ele sempre chegava perto das pessoas dizendo:
_ Descobri. Descobri.
Nós sempre perguntávamos:
-Descobriu o que fulano?
Ele nos olhava com aquele olhar que nos dizia: “Idiotas. É obvio que não posso contar.” E dizia:
_Basta saber que descobri.
Por muito tempo me iludi achando que ele era louco, doente. Como eu era muito jovem pensava que lhe faltava mãe, porque dele pouco sabíamos. Tínhamos medo de nos aproximar. Aquilo parecia uma doença contagiosa. Como se aproximar? Vai que aquilo pega? Eu sempre por trás da arrogância me permitia zombar dele constantemente. Ele de longe como se estivesse numa nuvem de superioridade me olhava e só olhava. Acho que ele sofria. Mas fazer o quê, eu era jovem! Tá bom, talvez isso não justifique minha atitude tão infame, mas já foi feito e por muito tempo passei ilesa por isso. Sórdida ingenuidade...
Numa dessas manhãs, como qualquer outra, me peguei dizendo:
_Descobri! – E a primeira coisa que me veio a cabeça foi aquele garoto que nunca mais vi. Seu olhar era claro em minha mente, principalmente porque fui zombada pela minha descoberta. Como Roda Gigante, nossa vida também gira. Apesar de nunca ter me sentido no topo pelas inúmeras inseguranças humanas, eu agora esta bem lá embaixo, enxergando o chão em que o nariz daquele menino por muitas vezes encostou.
Talvez se ainda mantivesse contato com ele, hoje seria um dia em que não iria querer vê-lo. Senti meu rosto corar. Uma vergonha tamanha que me fez cobri-lo com as mãos, como se isso pudesse solucionar toda aquela vergonha, a sensação de estar suja, de ser suja.
Poxa, faz muitos anos que nem sequer me lembrava daquele garoto, mas inconscientemente ele era marcante. Ele me deixou de herança saber o valor da dignidade. Pena que demorei muito a usar.
Ah se ele soubesse que eu também descobri...
Hoje poderia enfim quem sabe, contar suas inúmeras e abençoadas descobertas diárias. Mesmo que aquilo tudo fosse fruto de sua imaginação teria quer se valorizado. Nesse momento eu estaria despida, pronta paras as chicotadas dos ensinamentos dele com a certeza que me faz vislumbrar.
Eu queria nesse momento um menino com olhar esperto, sublime e inteligente me dizendo bem ao lado:
_Descobri! Descobri!

2 comentários:

  1. Flagrante mistura de remorso e arrependimento. Li em algum lugar que: "O remorso é uma impotência, por ele voltarás a cometer o mesmo pecado. Apenas o arrependimento, esse sim, é uma força que põe termo a tudo".

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  2. Descobri!!
    Mas isso eu posso contar. Não sou tão reservado quanto o menino...
    Eu descobri que divido minha vida com uma mulher super talentosa!! rsrs
    Parabéns amor! Está cada dia melhor, e me dando muito orgulho...
    Te amo!

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