quinta-feira, 31 de março de 2011

Juliana

                 Juliana era uma jovem com sonhos como qualquer outra. Seria como qualquer outra, se não fosse por sua beleza que deixava muitos boquiabertos. Mas Juliana não tinha a real dimensão de toda a sua beleza. Ela passava pelas calçadas da vida sem entender o porquê de tantos olhares pesando sobre si.
                Na Verdade Juliana era triste. Dentro de si questionava porque ninguém a amava, porque ninguém a queria. Reservava-se a algo que realmente fosse ser válido e passava pelas calçadas sem entender todos os olhares.
                Ela tinha fantasiado em sua cabeça como seria o amor ideal. Sonhava como acontece nos contos de fadas. Queria um príncipe em um cavalo branco, mas não entendia que existiam muitos príncipes a querendo. Juliana se esqueceu de perceber que os tempos eram outros. Que os homens não andavam mais em cavalos brancos dentro de armaduras pesadas. Mas era a única coisa que via em seus sonhos de amor.
                Juliana não percebia que todo o dia tinha um olhar que pesava mais do que todos.    Rômulo a olhava tão ávido por ser notado quanto ela. Ele queria que Juliana o notasse. Que entendesse que ele não tinha o cavalo branco e nem uma armadura pesada, mas tinha dentro do peito um amor incondicional.
                Rômulo ficava na janela sentindo o perfume avassalador que Juliana trazia junto consigo quando passava pela calçada. Seus sentimentos eram intensos. Sua barriga doía, suas mãos ficavam geladas e ela passava se perguntando por que ninguém a amava.
                Porque será que ninguém percebia o que era tão óbvio? Rômulo e Juliana tinham que ficar juntos. Aquele amor tinha que ser consumado pelo ardente encontro de suas almas. Mas Juliana passava sonhadora e Rômulo a tudo assistia calado.
                Dizem que Juliana se casou, teve filhos, engordou, ficou até um pouco feia e Rômulo como sempre, a observava sem perceber que o tempo tinha passado e ele estava solitário. Como era triste ver que Rômulo sofria com toda aquela estagnação.
                Então eis que acontece algo demasiadamente triste. O marido de Juliana morreu e quando ela recebeu a notícia estava bem em frente de Rômulo num dos momentos em que passava pela calçada. Ele parado, ficou a olhar sua princesa chorar, sem saber o que fazer.
               Ela, num impulso, corre em direção a ele e o abraça. Rômulo precisava usar aquele momento. Precisava sair da casca. Mas única coisa que Rômulo conseguiu fazer foi ficar parado sentindo o cheiro maravilhoso da sua mulher amada. Rapidamente, o que pareceu para ele uma eternidade, foi apenas alguns minutos. Juliana percebeu o ridículo daquela situação, o soltou e continuou andando.
                Rômulo não esquece até hoje aquele momento sublime para ele. Nunca lavou a camisa que usava naquele momento e viveu a sentir o cheiro de sua amada dizendo:
                _Ao meu amor esse contato já bastou.

Um comentário:

  1. Esse conto remeteu-me ao mestre Paulo Coelho e ao meu titio Raulzito...
    A beleza, ainda que, por vezes, acabe atemorizando pretendentes, não passa de um atrativo aos olhos, quando o verdadeiro "eu" encontra-se "maquiado"...
    "Infinita tua beleza como podes ficar presa que nem santa num altar..."
    Muitas pessoas preferem, por medo, talvez, abrir mão de uma pretensa felicidade em favor do outro, por acreditar que não é merecedor de tão louvável sentimento, o amor!
    "Amor só dura em liberdade, o ciúme é só vaidade
    sofro, mas eu vou te libertar...
    E assim, o amor fica relegado a um segundo plano!

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