segunda-feira, 28 de março de 2011

A verdade choca?

A verdade de um moribundo me chocou certa vez.
Como alguém em cima de uma cama convalescendo poderia conseguir encarar aquela realidade?
Era uma tarde de sábado, o dia pela janela era revigorante para mim, mas existia alguém que precisava da minha atenção. Sabe aquelas visitas que sempre fazemos para ninguém dizer que somos insensíveis? Então, numa dessas visitas lá estava eu, rezando para acabar logo, querendo o dia revigorante que me chamava pela janela. Nesses momentos um minuto parece eterno. Aquele realmente era um minuto de eternidade, quando de repente fui surpreendida por uma observação:
_Você quer muito que isso acabe para ir embora, não é isso? – Olhei em volta assustada, imaginando se havia pensado algo em voz alta. Foi quando me deparei com aquele olhar que me encarava com uma coragem por mim nunca vista. E nesse momento que realmente percebi o doente sobre a cama daquele gélido hospital. Ele continuou:
_Sinta-se a vontade para ir. A mim só cabe essa realidade. Conheço meu fim e sou íntimo dele o suficiente para viver assim e me bastar.
Minha boca emudeceu, acredito que nem o silencio falava por mim, estava claro que eu sofria com aquela sinceridade jogava bem na minha cara.
Questionei-me: como alguém doente pode pensar assim?
Rapidamente me recompus e disse em uma mentira mentirosa:
_Que isso! Muito me agrada passar esse momento com você. Não precisa se sentir sozinho. Estou aqui.
Como eu poderia mentir assim? Principalmente porque era bastante perceptível que estava desconfortável.
Quando acabou a visita me dirigi rapidamente para a saída como se quisesse e pudesse voar. Aquela realidade me causou algo que aquele moribundo jamais poderia imaginar.
A verdade é banal assim? Por que nos chocamos então?
Ele estava tranqüilo com a possibilidade da morte. Seria sua morte uma possível fuga da dor? E por que eu, ainda em plena juventude, me aterrorizei com a visão de algo que nem era meu?
Me deparei com a verdade nua na minha frente e uma dor talvez maior do que a dele me apertava por dentro. Eu precisava entender. Mas como entender aquilo com tamanha facilidade como foram suas palavras?
Fui para o carro com a sensação de que somos pequenos demais para entender o universo das perspectivas humanas. Quem somos nós para entender o sobrenatural por trás da morte.
Minha existência medíocre me batia e eu em silencio apanhava como se pudesse expurgar aquela minha banalidade diante morte.
Poderia facilmente virar o rosto para tudo aquilo, mas não se pode esconder de medos e eu, em minha idiota credulidade, me pus a aprender com sábios demônios do meu íntimo... Calada, idiota e vazia.
 




Um comentário:

  1. Como dizem... É ao final da vida que nos tornamos mais sensíveis à questões e coisas que aos olhos dos alheio pode parecer pequeno. Todavia, aos olhos de um morimbundo, um simples sorriso pode significar a gratidão de uma vida toda.

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