terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Sou verdade


Quando olhei a minha volta, me vi sentada naquela mesa.
Comida estranha, pessoas desconexas... O vazio rondou minha alma. Percebi que, definitivamente, não pertencia aquele lugar.
Meu pai esboçou uma tentativa de dizer-me algo! Eu, sequer escutei.
Minha mãe, em sua ingênua sujeira, deixou-me por diversas vezes beirando a náusea. Não consegui erguer o garfo até a boca para comer a comida preparada por alguém que desconhece a assepsia das mãos.
O silencio das palavras inteiras mal ditas, me consumia por dentro. Vi-me numa ilha, rodeada por aquelas pessoas, que meu sangue não gritava por laços.
Descobri sem querer o vazio por dentro... Porém, eu, não senti pena de mim. Senti foi uma completa falta de necessidade daquilo tão convencional.
Parei ali instantes longos, minha vontade era partir o mais rápido para onde eu pudesse respirar ar respeitável.
Não conseguia me fixar, em nada, por inteiro. Por dentro eu era aquele distanciamento-perto.
Minha sobrinha corria pela casa, dizendo, com sua sabedoria infantil, coisas que eu gostaria muito de guardar eternamente, mas só conseguia me sentir só e por isso de nada me lembro. Esqueceria-me, até mesmo, de seu sorriso, se não fossem as lindas fotos que tive estomago para tirar-las.
Aquela soma de coisas vazias, aquele lugar que causou-me a pior nostalgia que sonhei um dia ter, aquelas pessoas que eu não reconhecia... E eu ali me sentindo longe, sem passado, sem razão...
Mirei o presente e não o encontrei. Mirei o futuro e me deparei, com a lastimosa sensação de que sem passado não se pode construir nada. Mas não me compadeci, queria apenas ar fresco que lá fora com certeza existia.
Procurei as mais idiotas desculpas para ir embora. Disse coisas que não consigo me lembrar, apenas precisava fugir, mais uma vez, daquele lugar.
Quando enfim consegui sair, entendi tudo... Os pássaros cantavam lindamente naquela tarde ensolarada e, vi-me livre da melhor forma que poderia estar... só!
Fiz os mais loucos tratos com a minha alma, briguei internamente com meu lado bom e me descobri má, ruim e seca. Mas percebi que nada disso faz de mim alguém pior.
Senti-me por inteira, humana! Podendo assumir que naquele quadro não cabia a minha pintura, tão complexa, para toda aquela obviedade.
Descansei na certeza de que, pelo menos, sou verdade.

Um comentário:

  1. isso é muito bonito e forte e claro. meus olhos enxergaram um romance carregado e delicioso de se ler. um retrato em movimento e a cores, vivido e forte. impecável, diria.

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