quarta-feira, 4 de abril de 2012

Integridade alguma


Ela era insana. Um copo de bebida qualquer já a deixava completamente fora de si. Naquele dia não era diferente. Estomago vazio, não pela falta, mas pela displicência diante da comida. Ela era desagradavelmente infeliz. Vivia com um homem tão frustrado quanto si, que gostava do cheiro fedido de suas partes intimas e só por isso suportava aquela bêbada social. Era uma tarde agradável. O sol iluminava o céu sem nuvens, um azul profundo. Mas, para ela era indiferente, quantas cervejas fossem possível ela bebia compulsivamente. Seu estado era lamentável. Morava em uma mansão, mas isso não era desfrutado com valor. Seu marido trabalhava intensamente para lhe proporcionar uma vida confortável, mas ela só queria saber de beber e cair pelos cantos, entorpecida pela falta de senso. Um cordeiro estava sendo assado no forno. Ela abria o forno, coloca quase todo o azeite do vidro nele e o colocava novamente. Quase se queimava ao fazer isso. Triste vida da rica mulher pobre. Cara de puta, postura de qualquer e a conta bancaria recheada.  De que adiantava? Longe de casa por muitos anos, a solidão era sua companheira e ela não sabia lidar com isso.
_O cordeiro no forno vai queimar.
_Cordeiro?
_Sim, tu colocou um cordeiro no forno para assar.
_Oh, é mesmo.
Abria o forno como se ele não estivesse quente. Loucamente bêbada.
_Isso aqui vai demorar um tempo bom ainda. Você está com fome?
_Estou sim, mas agüento esperar.
_Então vamos beber porque a bebida alimenta.
_Desde quando?
_Desde sempre. Eu estou sempre bem.
_Você não acha que já bebeu demais?
_Quem convive com a solidão desconhece exageros.
Era triste ouvir um relato de uma bêbeda com lágrimas nos olhos, falando sobre sua lamentável situação de vida. Eu fiquei ali, olhando espantada de certa forma. Sem um único centavo no bolso, mas lúcida e grata por não ter a vida daquela mulher. Me perguntava a todo o momento o que me levara ali. Pena, foi a conclusão que cheguei. Mas a depressão nos arrasta, é preciso tomar cuidado. O cordeiro se ficou pronto em algum momento não sei. Me levantei.
_Estou indo embora.
_Mas está cedo ainda.
_Não pra mim.
Peguei minha bolsa e comecei a caminhar. O caminho era longo até em casa e eu estava triste com aquela situação. Mas eu estava longe de ter a possibilidade de ajudar aquela pobre coitada. Infelizmente às vezes precisamos olhar apenas para nós. Começava a noite e eu fui embora sem olhar pra trás. Eu era egoísta e isso estava claro. Mas era insuportável até pra mim que a amava conviver com aquela situação. Dormi sono profundo naquela noite e decidi que não me encontraria mais com aquela mulher. Que os céus me perdoem, mas de dor já me basta as minhas.

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