sexta-feira, 6 de abril de 2012

Relatos de uma bêbada digna

Eu acabara de entrar naquela livraria nova do bairro onde morava. Uma livraria como qualquer outra com a diferença de que com a nova tendência, existia um café onde podíamos comprar um livro e ler enquanto degustamos um café caríssimo. Uma grande bobeira. Eu estava na sessão de livros estrangeiros. Apetecia-me mais livros estrangeiros, talvez eu não fosse tão a favor do meu país e de sua cultura. Que se foda, meu país também não era tão agradável assim comigo. Pois bem, olhava um livro que me interessou pelo titulo “Histórias de uma puta de luxo.” Quando aquele homem me interrompeu.
_Olá!
_Olá_ Eu estava em um bom dia, o suficiente pelo menos para um “olá”.
_Você é Tereza Santos?
_Sou sim, por quê?
_Já li alguns artigos seu na revista. Admiro muito sua escrita.
Oh deus eu era de certa forma famosinha, mas o que fazer com o meu azedume de quem não gosta de contato com seus leitores? Respirei fundo e como de certa forma aquele homem me interessava, permiti um pouco mais de educação.
_Ah sim, obrigada.
_Posso te pagar um café?
_Oi?_Perguntei como quem não tivesse entendido o convite.
_Posso te pagar um café? Juro que não tomarei muito do seu tempo.
O que fazer nesses momentos? Eu poderia mandar ele ir a merda e recusar, mas de um jeito estranho aquele homem conseguia tirar de mim alguma gentileza.
_Oh, tudo bem. Mas gostaria que não fosse aqui e se possível no lugar do café me apetece mais uma boa dose de rum._Já que ele tinha interesse em pagar, não me custava tentar que fosse o que realmente estava afim de beber.
_Claro.
Nesse ponto já começava a estranhar a real intenção daquele cara, mas preferi acreditar que ele se importava realmente com meu trabalho idiota. Por um momento pensei que minha fama de boa trepada poderia já estar correndo a boca solta. De qualquer forma ele estava pagando o rum e olhando melhor pra ele até que uma trepada com ele não caia mal. É eu era uma devassa. Uma bêbada e devassa. Eu era feliz assim, muito feliz, juro que era feliz. Que merda, acredite existe felicidade nisso. Enfim, se não acreditam não me importo.De qualquer forma uma dose de rum, naquela hora do dia e de graça muito me agradava. Se teria que me socializar com um estranho que pelo menos fosse bêbada. Saímos da livraria e entramos no carro dele. Se ele estava mal intencionado pouco me importava. Na verdade estava mesmo interessada em saber se aquele estranho trepava bem. Ele me excitava de uma forma louca sem ao menos me tocar. Ele foi dirigindo pela cidade enquanto me dizia o quanto admirava meu trabalho de escritora. Uma conversa completamente entediante. Talvez pelo fato de que ainda não havia bebido nada naquele dia. Mas eu estava ali, firme na esperança de uma dose de bebida que ele iria pagar e por isso acenava com a cabeça enquanto sorria. ‘Que se dane o meu trabalho, vamos logo, quero beber. ’ Era meu pensamento. Pensamento esse que meu sorriso bem escondia. Apesar de que me agradava ter um fã. Era legal ter alguém babando no meu trabalho e que por conta disso ainda pagava uma bebida. Por fim, depois de dez minutos andando pela cidade, o que pra mim pareceu uma eternidade, ele parou em um elegante bar na parte nobre da cidade. Sentamos à mesa e o garçom logo veio nos atender.
_Uma dose de cuba libre caprichada no rum e uma de whisky com duas pedras de gelo.
_A cuba sem limão, por favor._Eu disse.
Sempre odiei o limão no rum. Pra mim o limão atrapalha o sabor do rum, que deveria ser acentuado ao máximo. Bom isso é o que eu penso. O garçom logo nos serviu. Aquele era um bar bacana. Bebi minha cuba em dois goles. O homem me olhou espantado e pediu outro. O segundo fui bebericando aos poucos e degustando.
_Então, ainda não sei o seu nome._Disse, apesar de que nem tinha tanto interesse assim em saber.
_Isso importa?_Perguntou ele com um leve sorriso no rosto.
 Aquele homem ficava cada vez mais interessante, parecia que lia meus pensamentos. Realmente o nome dele pouco importava. Na verdade saber o nome dele daria uma intimidade entre nós que não me atraia. Continuamos bebendo, não faço idéia de quanto bebemos. Mas que diferença isso fazia? Nenhuma. Falamos sobre todos os assuntos possíveis. Quanto mais bebíamos e conversava eu percebia que aquele homem estava longe de ser realmente um fã interessado no meu trabalho. Quando enfim ele disse seu real interesse.
_Eu sou escritor também. Estou querendo publicar na mesma revista que você, mas me disseram que eu teria que ter alguém que me indicasse. Por sorte encontrei com você na livraria, como já tinha visto uma foto sua, resolvi arriscar. Pode me ajudar?
Eu sabia que aquele drink me sairia caro demais. Não podia existir alguém que pagasse uma bebida despretensiosamente. Mas será que poderia ser pelo menos algo que me favorecesse também? Como uma boa trepada. Peguei minha bolsa, tirei uma nota de cinqüenta reais, joguei sobre a mesa e me levantei.
_Seu fodido de bosta, vai à merda!
Sai daquele bar e para minha sorte estava passando um táxi. Acenei, ele parou e eu entrei. Dei o meu endereço e pedi que fosse o mais rápido possível. No caminho fiquei pensando naquele homem. O mundo estava mudando, as pessoas sempre tinham algum interesse. Eu até poderia ajudar aquele homem, claro, poderia indicá-lo, mas ele não precisava dizer que era um super interessado no meu trabalho e me pagar uma bebida. É lamentavelmente alguns acreditam que tudo tem seu preço e isso me enoja. Ninguém me compra assim tão facilmente não. Eu me esquecera de lhe meter um soco na cara, isso que eu deveria ter feito. Um idiota querendo colocar preço na minha pessoa. Os valores estavam invertidos. Por mais que eu fosse não fosse uma mulher exemplar, ainda me sobrava algum orgulho. O táxi parou na porta de casa. Entrei e fui direto para a máquina de escrever. Escrevi toda a minha raiva que deixei de explanar com o soco que não dei naquele homem. Quando acabei, respirei profundamente e consegui me desligar do assunto. Fui até o armário, coloquei uma boa dose de Vodka no copo e me sentei no sofá. O mundo é sujo, mas eu não vou participar dessa zona.





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