sábado, 14 de abril de 2012

Vampirismo social


Era eu e aquela mesa. Aquela mesa e eu. Fiquei confusa tentando entender quem estava no caminho de quem. Era lamentável aquela situação. Uma mesa tão pesada que não me deixava saídas. Era ficar ali esperando o meu desfecho naquele imundo lugar. Já tinham se passado cinco dias que eu chegando em casa fui pega por homens encapuzados. Três grandes homens. Talvez nem fossem tão grandes assim, mas com minha franzina forma física aqueles homens pareciam gigantes. Tudo bem que eu era figura constantemente presente nas colunas sociais de importantes jornais, mas tudo aquilo não passava de aparência. Eu era uma fodida. Vivia de sugar as grandes e verdadeiras almas da elite social para conseguir alguma aparição. Eu vivia constantemente na tentativa de ascender socialmente. Eu era um lixo. Sendo assim, por que justamente eu seria seqüestrada? Coitados daqueles grandes homens, muito músculo e pouco cérebro. Dizem que quando se prepara um seqüestro a vitima é pesquisada. Procuram saber seus hábitos diários, seus bens materiais e a real possibilidade de um bom valor de resgate. Mas eu não tinha nada e nem ninguém. Eu era uma fodida que morava em um apartamento emprestado de Copacabana. Se aqueles homens queriam ganhar dinheiro com o meu resgate estavam na merda. Pior pra mim. Como iria sair dali? Não existia uma alma viva que poderia me socorrer. Na alta sociedade é assim, você aparece do lado das pessoas sorridente. Posa para as fotos como se fossem amigos íntimos. Tudo uma grande e tola mentira. Talvez nem soubessem quem eu era depois de cinco dias desaparecida. Quem sentiria falta de uma vampira social? Absolutamente ninguém. Eu gritei nas primeiras doze horas de reclusão. Fiz as mais idiotas negociações com alguém que eu nem sabia se de fato estava do outro lado daquele lugar imbecilmente montado para aquela ocasião. Um quadrado de mais ou menos nove metros quadrados, com uma privada tão suja quanto um bueiro e um colchonete jogado em um dos cantos. Ah já ia me esquecendo, a mesa, a maldita mesa que me prendia naquele momento em um dos cantos. Mais nada. Era eu e toda aquela bizarrice. Foi então que em um acesso de loucura eu tentei fugir. Subi na mesa e tentei passar pelo buraco que deixava entrar alguma luz naquele lugar. Em vão. Sequer consegui chegar até o buraco. Era alto demais. Cai e a mesa caiu por cima de mim extremamente pesada. Não sei se por conta da franqueza em que me encontrava ou realmente pelo peso daquela idiota mesa. Eu estava ali, presa em um dos cantos sem sequer poder me aproximar do prato, de uma comida nojenta, que era colocado por uma abertura no final da porta todos os dias. Definitivamente era meu fim. Busquei um ultimo fôlego que achei que tinha e soltei um grito de socorro. Ninguém atendeu. Depois de tanto esforço para tentar sair daquela situação acabei adormecendo. Não faço idéia de quantas horas dormi. Só sei que incrivelmente dormi sono pesado e até gostoso. Acordei já com a luz entrando pela fresta do único buraco que existia naquela sala. Foi nesse momento que me descobri confortavelmente deitada sobre o colchonete. Passei a mão nos olhos e devagar fui olhando ao redor. Lá estava a mesa no mesmo canto de sempre. Então cheguei à conclusão de que tudo não passou de um sonho doentio e louco. Já não me bastava à desgraça de ter sido seqüestrada sem motivo algum pra isso, ainda tinha que ficar sonhando com mais desgraça. Minha vida estava uma completa merda e eu ainda conseguia dormir sono pesado. O que fazer? Alguma vantagem eu tinha que tirar daquela situação. É eu era uma fodida que tentava a todo custo subir usando o brilho alheio experimentando o fardo de quem pertence à nata social.
  

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