quinta-feira, 5 de abril de 2012

Dançando com o desconhecido

A placa dizia “Love me”. Uma placa muito iluminada para aquela rua escura. Eu ainda não tinha entendido como havia chegado até ali. Tudo estava confuso demais. Pouco movimento do lado de fora daquele estabelecimento, apesar da grande quantidade de carros estacionados ali. Carros caros, bonitos e cheirando a arrogância. Talvez arrogância, pois jamais poderia na minha atual situação ter um. Eu invejei os donos dos carros por um segundo. Mas minha situação não permitiu mais de um minuto, meu pensamento era ‘o que estou fazendo aqui?’ Parei por um momento, fechei os olhos e forcei minha memória para entender como tinha chegado até ali. Como um filme voltando em câmera lenta as lembranças foram surgindo. Eu havia saído com um grupo de pessoas, sentamos em um bar, daqueles bacanas onde a cerveja custa quase o salário inteiro de um mês de trabalho suado. Lembrei-me então que já na quinta rodada de cerveja, um belo homem se sentou ao meu lado. Depois disso não me lembrei de mais nada. Nesse momento foi que me dei conta de que minha bolsa não estava comigo. Abri os olhos e me permiti olhar a minha imagem no retrovisor de uma daqueles carros estupidamente parados na frente daquela ridícula casa, com uma placa que cegava de tão iluminada. Meu estado era lamentável. Tinha um arranhado no pescoço e meu cabelo estava completamente desgrenhado. Foi então que me atentei para o fato de que quando algo parece errado a tendência é que, lamentavelmente, possa piorar. Havia no meu vestido marcas de sangue. Comecei a chorar até sem saber por quê. Em meio a todo o meu desespero para entender o que estava me acontecendo, não percebi que uma mulher havia se aproximado. Ela vestia uma calça justíssima, uma blusa que deixava sua barriga, invejável, de fora, maquiagem carregada no rosto e um cigarro na mão.
_Oi, está perdida querida? Seu estado é lamentável.
_Oi. Estou desesperada. Onde estamos?
_Estamos no parque central da cidade. O que te aconteceu?
_Oh! Eu não sabia que existia essa casa de show por aqui. Por sorte moro bem perto daqui, mas perdi minha bolsa. Você tem um telefone que eu possa usar?_ Disse não querendo responder que não fazia idéia do que tinha me acontecido.
_Tenho sim. Tome.
Liguei para casa, ninguém atendeu. Xinguei.
_Você sabe de algum chaveiro que eu possa ligar nessa hora da madrugada?
_Olha, se a sorte não te fez companhia até agora, acaba de se estabelecer. Meu pai é chaveiro. Espera que vou ligar para ele.
_Obrigada!
Eu não fazia idéia de quem era aquela mulher, mas aquele não era o momento certo para desconfianças. O homem não demorou a chegar. Fomos até a minha casa e ele abriu a porta pra mim. Peguei o dinheiro que ficava de reserva para emergências e o paguei rapidamente, agradeci e tratei logo de fazer com que fossem embora. Tomei um banho demorado e pude comprovar que comigo não havia acontecido nada. Eu não havia sido corrompida pelo estupro. Porém a pergunta permanecia ‘o que havia acontecido?’ Sai do banho, fui até a cozinha, preparei um pão com presunto e um copo de leite. Comi e então percebi que estava com muita fome. Fiquei um longo momento sentado à mesa, pensando nas possíveis desgraças que poderiam ter me acontecido naquela noite obscura. Quando por fim entendi que não me lembraria, resolvi me deitar. Meu corpo cansado agradeceu e meus olhos logo se fecharam. Dormi gostosamente na certeza de que qualquer coisa que tenha ocorrido naquela noite, o fato de estar bem devia ser o real foco naquele momento.

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