quarta-feira, 11 de abril de 2012

Jean Charles, Robson Terra e um lamentável luto


Olhando a história de Jean Charles, o brasileiro assassinado em Londres e o homem de quarenta profissões Robson Terra figura ilustre de Juiz de Fora, Minas Gerais, eu fico pensando em como a vida tem suas surpresas desagradáveis por vezes. Esses dois casos ficaram na minha cabeça. O primeiro por ter visto o filme que produziram contando a história e o segundo por ser uma pessoa da minha cidade e as redes sociais comentarem a respeito com seus alunos e amigos deixando mensagens de despedida. Não que a morte me assuste. Pelo contrário, acho a morte a coisa mais maravilhosa que todos teremos a oportunidade de desfrutar, sendo até mesmo um refúgio para nossa cansativa jornada em vida. O que me choca é que as duas histórias são distintas em si, mas duas histórias lindas que se ligam pelo seu desfecho, a morte súbita.
Jean era um menino de uma cidade pequena de Minas Gerais, Gonzaga, vivia de forma simples, mas tinha um sonho que é, acho eu, o da maioria das pessoas, o famoso “vencer na vida.” Ele saiu do Brasil no intuito de trabalhar em Londres e quem sabe assim conseguir estabelecer um padrão de vida mais confortável para sua família que ficara. Mas, pelo que li a respeito, ele mesmo não queria voltar. Londres era seu ‘Oasis em meio ai deserto’, seu começo e nunca seu fim, pelo menos em seus sonhos. Menino simpático, menino de sorriso fácil. Ajudava a todos que podia, tanto que levou e abrigou dois amigos e uma prima em seu apartamento. Dava as pessoas que queriam desbravar além fronteiras o que chamamos de “ponta pé inicial.” Além de casa que ele oferecia, dava também a ajuda no primeiro emprego. Como todo jovem também se envolvia em algumas confusões, que seu coração nobre sempre o fazia se arrepender logo. Um pouco antes de morrer havia se envolvido em um incidente com dois colegas do trabalho, isso provocou sua demissão. Ele passou um tempo aceitando o trabalho que surgia até que conseguiu um para trabalhar com o que realmente sabia fazer. Ele era eletricista. Em uma manhã turbulenta em Londres por conta de atentados terroristas nos metrôs, Jean sai de casa feliz porque tinha conseguido um emprego “decente.” Na primeira estação é barrado na entrada porque ela estava fechada. Corre o máximo que pode para outra. Quem vive em Londres ou já esteve lá sabe que é fornecido em todas as estações de metrô um jornal que as pessoas têm a oportunidade de ler durante o trajeto e onde descer coloca novamente na urna de jornal para que outras pessoas possam ler. Jean pegou um jornal antes de entrar no metrô, entrou e se sentou. De repente é surpreendido pela policia. Em tempos de ameaça terrorista todo cuidado é pouco para uma nação afetada de forma violenta pela covardia terrorista. Jean, acredito eu assustado, reage sem entender ou até mesmo cogitar que seu ato era a assinatura do seu atestado de óbito. Confundido com um terrorista é atingido pelas costas. Londres naquele momento se tornava seu começo e seu fim. Lamentável fim. Um sonho interrompido de forma brutal e dolorosa. Não só pela pouca idade dele, mas também por como aconteceu.
Até esse ponto você deve estar se perguntando o que uma história tem a ver com a outra. Pois eu digo.
Robson terra, 57 anos, nascera também em uma pequena cidade no interior de Minas Gerais, Chácara, se consta no mapa nem sei. Cresceu em meio à simplicidade da vida daquela pequena cidade. Como ele mesmo dizia “eu descobri a criatividade como forma de sobrevivência.” Amado por seus alunos, amigos e parentes. Homem distinto da sociedade. Guerreiro. Vencedor. Não encontrou na pobreza uma limitação para fazer melhor e diferente. Ator nos palcos dos teatros, TV, praças, aldeias e onde mais fosse preciso. Defendia a arte como fator indispensável para uma boa vida. Protagonista de sua própria e nobre história de vida. Superou a si mesmo e seu possível destino, fazendo bonito em vida. Um homem homossexual como poucos que existem. O grão capaz de fazer diferença no meio de tantos grãos de areia que são os seres que habitam a “praia” chamada terra. Um verdadeiro, digno e maravilhoso exemplo. Acorda como em todos os outros dias. Homem agitado como só ele, sempre muito ocupado por seus afazeres, passa mal e é levado ao hospital. Uma tentativa foi feita para reanimá-lo após a parada cardíaca. Em vão. Dava-se assim o fim de uma brilhante história de vida. Luto absoluto nas redes sociais, destaque dos jornais locais. Juiz de Fora perdia um cidadão ilustre, os amigos um companheiro leal, os alunos um mestre sábio e dedicado, a vida um dos seus maiores guerreiros.
Jean Charles e Robson Terra ligados pela lamentável interrupção de suas vidas que ainda tinha muito para ofertar.
Essa é a vida brincando um jogo estranho, onde ganhamos por um longo período, mas quando ela ganha é fatal.
Você perde em algum momento para a vida e se rende de forma às vezes brutal e inesperada a morte. Essa é a maior certeza. A morte um dia dará ‘suas caras’ para todos. A morte é o preço da vitória da vida sobre nós.
Jean e Robson, duas vidas subitamente “perdedoras”, se rendendo a morte.
Os motivos importam para os que ficam lamentando e tristes. Para quem vai não faço idéia do que acontece, do lado de lá é um mistério profundo.
Nesse jogo louco que somos obrigados a jogar com a vida, acredito que é necessário degustar como se degusta um bom e caro vinho as vitórias diárias. Valorizar com intensidade cada respirar. É preciso ter sangue frio para vivenciar o gostinho de vitória diário, tendo a certeza que em algum momento perderemos.
Eu uma entusiasta da morte, sua admiradora e quase uma amiga peço apenas uma coisa quando chegar a minha hora de perder, PAZ.

*Que Jean e Robson sirvam de exemplo de como se deve viver com intensidade cada momento da vida e fazer sempre o seu melhor em tudo.   

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