quinta-feira, 5 de abril de 2012

Tereza meu nome


O bom escritor escreve de forma simples o que é difícil de entender. Ou talvez devesse ser assim. Meu nome? Tereza. Pobre de mim que me intitulei de escritora. Que grana se ganha um escritor? Porra nenhuma! Essa é a grande verdade. Por isso acho que vale simplificar. Claro que isso depende de que publico se quer alcançar. Mas eu, coitada, queria apenas o dinheiro para mais um trago de uma bebida qualquer. “vai arrumar um trabalho digno Tereza.” Era o que minha mãe dizia. Tola. Beirando a mais suja ignorância ela não entendia que aquilo era a única coisa que eu sei fazer de melhor. Claro, depois de beber. James meu amante me acompanhava. Acho até que estávamos juntos pelo gosto incomum pela bebida. Fosse lá qualquer uma. O importante era beber. Muitos me diziam que eu estava era me afundando. Mas eu definitivamente não era normal. E se todos um dia morreremos mesmo, que pelo menos eu morresse fazendo aquilo que era um dos meus poucos prazeres em vida. Eu gostava de pintar também. Isso é considerado arte. Lamentavelmente a arte é considerada vagabundagem, logo não me sobrava nada além da miserável vida de alguém que sobrevive da arte. Além disso, eu era uma bêbada, azeda e inconstante. James me considerava interessante. Mas isso se deve ao fato de que trepavamos compulsivamente tanto quanto bebíamos. Ah e tanto quanto eu escrevia. Talvez por isso ele ainda se interessasse por minha companhia. Eu me considerava boa na trepada. Sem regras, sem limites e sem quantidade. Se é que me entendem. Se não entendem, imaginem. Nós costumávamos ficar no quarto, que minha mãe havia me cedido por caridade, já que ganhar dinheiro não era minha sina. Eu saia dali apenas para mandar meus textos para uma porca revista que tinha os considerado alguma coisa para publicar. É, por mais que amasse os meus textos não os considerava assim tão interessantes. Mas escrever me fazia bem. Já James era um pobre coitado, que vivia da bebida que eu conseguia com o pouco dinheiro que ganhava e da comida que minha mãe nos fornecia, acho que pela boa vontade de seu coração. Minha mãe era simples, mas uma boa mulher. Sentia pena dela, por ter uma filha como eu. Uma bêbada, sem futuro e sem brilho. Escritora por ser a única coisa que sabia fazer na vida. Minha mãe era uma mulher nobre. Vivia como a sociedade dizia que era legal viver. Já eu não dava a mínima para regra alguma. Eu era uma fodida. A idade já estava me pesando. Meu rosto já deixava aparecer algumas rugas, assim como meu cabelo que tinha milhares de fios brancos. Coisa que eu não dava a menor importância. “pinta esse cabelo Tereza, passe um creme nesse rosto.” Minha mãe ainda tentava colocar em mim algum traquejo de mulher. Mas eu cagava para aquela bosta toda. Queria mesmo meus tragos de qualquer bebida e quantas trepadas me fossem possíveis. Eu era o que chamam de escoria da humanidade, vivia a margem do mundo e não me importava com ninguém além de mim. Passava na rua e ouvia as pessoas sussurrando uma para as outras “lá vai aquela vulgar.” E eu fazia questão de rebolar ainda mais meu traseiro caído. Aquelas pessoas não sabiam que eu era um verdadeiro fracasso. Assustava-me ver as suas opiniões sobre alguém que deveria passar sem a menor importância. Talvez elas lessem a revista que publicava meus textos. Nem sei, eu mesma não lia. Ao invés disso usava o dinheiro para comprar quantas bebidas mais eu pudesse. Eles não tinham interesse em me mandar um exemplar? Pois bem, eu também não tinha interesse em comprar. No fundo eu era uma doente social. Mas quem se importa? Minha mãe? Talvez. Mas nem ela mesma sabia mais o que fazer com aquela situação e me dissera que havia entregado para deus meu caso. Eu sempre perguntava “Quem é deus, mãe?” Ela se indignava e saia me xingando. Pobre da minha mãe que era obrigada a conviver com sua frustrada criação. Então falando ainda sobre a simplicidade que o escritor deve ter quando escreve, quero dizer uma coisa muito importante. Que se foda isso também.

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