quarta-feira, 21 de março de 2012

Minhas lembranças em preto e branco


Eu não tive TV em casa durante um período.
Não sei precisar exatamente quando foi, sei que praticamente toda a minha infância e um período da minha adolescência.
Ah como eu sentia falta disso, todos os meus amigos estavam atualizados quanto aos novos desenhos, novos programas e eu lá, simplesmente sem TV.
Me lembro que queria muito ter assistido uma corrida ao vivo de Airton Senna e não pude. Queria ter acompanhando ao show da Xuxa, mas me era proibido porque ela tinha pacto com o demônio.
Eu queria tanto ter assistido Hilda Furacão e não pude.
Na minha infância sinceramente não me lembro bem o que fazia pra ocupar meu tempo, me lembro apenas que eu era o ‘capeta’ para as empregadas. Corria pela casa dizendo que não iria tomar banho e elas atrás de mim com a mão pronta pra uma palmada. Nesse período não tive meus pais muito presentes e minhas maiores lembranças são desses anjos que me ensinaram coisas maravilhosas.
Mas na minha adolescência, além de ir à escola e fumar escondido eu lia, compulsivamente lia. Chegava a ler Três livros por semana, eu era a freqüentadora mais assídua da biblioteca da pequena cidade onde morei. Posso dizer sem duvida, mesmo com a falta que me fazia e até mesmo as corridas que dava na casa dos vizinhos pra ver TV, que essa foi a época mais produtiva da minha vida. Aos treze anos já tinha escrito um livro, bobo, mas muito importante pra mim.
Eu me fartei de todas as nuances da literatura. Lia de tudo que podia e escrevia de forma mais lírica e pra mim muito importante.
Me lembro das vezes em que fui ao lago que tinha perto da minha casa com caneta e papel e escrevia minhas desventuras amorosas e chorava com minhas emoções tortas.
Nesse período meus amores eram mais intensos, sem limites e sem explicações. Apenas sentia e me deixava levar.
Fumar pra mim era o ápice de minha rebeldia. Os beijos escondidos eram carregados de adrenalina.
Eu era rica sem televisão e não sabia.
Não existia internet, encontros eram marcados na porta do colégio, na hora do recreio e aconteciam na praça da cidade. Tudo girava em torno da praça. Eu tinha hora pra chegar em casa, exatamente as 22hs. Mas extrapolar 5min era motivo de libertação.
Minha adolescência foi rica de tudo que se deve existir pra todos. Lembro com uma nostalgia gostosa de tempos que não voltam, de amigos que não tenho mais contato, mas principalmente de um tempo gostosamente ocioso que não consigo ter mais.
Se eu pudesse voltar atrás não faria nada de diferente, pelo contrario, viveria ainda mais intensamente tudo isso que me foi muito enriquecedor.
Eu não tive TV por um período, mas esse foi de longe o melhor período da minha vida

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