sexta-feira, 30 de março de 2012

A deliciosa surra da minha solidão


Eu estava sentada naquele bar, escuro e fedido. O bar ficava na esquina de uma rua sem saída. Perdido, esquecido, fedido. Mas quem se importa no estado em que me encontrava? Ninguém. Onde tivesse uma bebida barata e um lugar pra refletir, pra mim estava valendo. Pedi uma dose de cuba libre. Havia junto comigo naquele bar mais três pessoas. Um senhor já de idade e cheirando a colônia barata, um jovem com sua roupa rasgada e um homem de terno e gravata. Eu era a única mulher naquele lugar, mas isso nunca foi um problema pra mim desde que não mexessem comigo. Não sei o que os trazia aquele lugar no meio do nada, escuro e fedido. Honestamente nem me interessava saber. Eu estava completamente egoísta e preocupada com minha tola dor intima. Eu queria o silencio da minha alma somada aquela abusada dose de rum e minha pouca relevância diante do quadro daquele momento. Puxei meu cigarro da bolsa. Acendi.
_Ei, não pode fumar aqui. Apague esse cigarro agora._ Disse o garçom de forma ríspida.
_Cara que se foda a lei. _ Eu disse de forma grosseira_ Se acha que compensa vem aqui apagar.
O garçom para o que está fazendo e começa a caminhar na minha direção. ‘você vai ter que brigar com ele sua idiota.’ ‘que se foda, brigo com ele é agora.’ Meus pensamentos giravam na velocidade da luz, enquanto o garçom continuava caminhando.
_Mas que porra mulher, não brinque com a minha cara e apaga logo esse cigarro._ Falou o garçom visivelmente nervoso.
_Eu já lhe disse seu bosta, se quiser venha aqui apagar e não me amole.
_Você está procurando confusão, só pode.
_Nem estou, mas se você der o primeiro passo eu não vou amarelar seu idiota de merda.
Meu estado de espírito era lamentável e se aquele homem quisesse realmente brigar comigo talvez fosse uma ótima possibilidade de aliviar toda a minha tensão.
_olha ela se passando por valente. _ Diz o garçom em tom zombeteiro.
Nesse momento minha raiva já tinha me cegado. Como assim aquele homem me subestima descaradamente? Eu precisava tomar uma providencia para que não parecesse uma donzela indefesa, afinal eu só queria um momento de sossego com meu rum e cigarro. Que mal havia em fumar naquele lugar estranho e mal freqüentado? Nenhum. Me levantei rapidamente e chutei o saco daquele imbecil. Um soco na cara e dois na altura da cintura. Meus pensamentos e meu corpo não obedeciam à razão. O homem cai se contorcendo de dor e eu não estava acreditando que tinha tido aquela atitude e que o tinha derrubado com tanta facilidade. O bar havia perdido o foco, as pessoas estavam paralisadas diante daquela cena. Mais do que depressa peguei meu copo com rum, minha bolsa e sai correndo.
Quando já havia alcançado certa distancia comecei a andar mais devagar e então senti que minhas mãos doíam demais. Mas eu não me importava. Mais a frente encontrei uma escada de igreja. Sentei e coloquei minha bolsa em um dos degraus. Puxei um cigarro. Acendi e traguei de forma compulsiva. Olhei pro céu, não tinha lua naquela noite. O céu estava tão cinza quando meu intimo. Eu também não ansiava pela beleza da lua. Eu só queria aquele momento. O silencio, nem que fosse o falso de uma igreja. A abundante dose de rum no copo na minha mão. Meu vagabundo cigarro. Por fim minha dor desfrutada ao máximo pela minha deliciosa solidão.

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