quarta-feira, 14 de março de 2012

Vamos em frente


É quando a luz se apaga. Do outro lado eu enxergo com clareza. Bate um aperto no peito e uma vontade infindável de ser melhor. Do outro lado eu consigo raciocinar. Do outro lado é que eu enxergo de verdade. Minhas lágrimas não são em vão. Existe a solução. Do lado de lá eu sei que posso encontrar. É assim sozinha em meio à multidão, cavando as possibilidades e tentando acertar que eu consigo caminhar ainda de pé. Eu abusei da sorte. Tive coragem demais. Arrisquei todas as fichas e não vejo como voltar atrás. Eu fui forte demais. Eu fui dura demais. Eu fui lamentavelmente correta demais. Mas eu tentei. Incansavelmente eu tentei. Eu querida voltar, refazer o caminho e encontrar a dignidade. Mas essa se escondeu de mim. E sobrevivendo um dia por vez eu vou me conhecendo melhor. Todas as manhãs existem novas expectativas. Todas as manhãs novos sonhos. Todas as manhãs acordar de novo. Eu me deito todas as noites e peço: “que essa seja a última”. Mas eu acordo todas as manhãs e digo: “vamos em frente.”.  Eu tento não fraquejar. Eu tento ser forte. Eu sei que consigo. Levanto certa ousadia. Reúno toda a comissão de frente da boa vontade. Eu faço o meu enredo. Nas mãos as chances do dia. Nas mãos à vontade pra ser renovada. E a cabeça erguida. O dia caminha na serenidade total. E eu me descubro guerreira. Em meio a muitas lágrimas um sorriso de força. Eu aceno por quem passa. Desvendo uma educação. Em silencio por dentro canto uma canção. E meus pés não param. Meus pés persistem em levar meu corpo cansado adiante. E eu me vejo firme sem saber pra onde ir, mas sem parar. Meus amigos tentam me animar. Meus amores se cansam. E eu sacudo a poeira tentando ser melhor. Meus olhos fechados só conseguem enxergar do lado de lá. Meu choro é de lamento. Meu choro é de garra. Meu choro é choro. A tarde cai. Eu invento um poema e recito uma poesia. Por dentro a melancolia. Por fora a força e a coragem. É chegada a hora de novamente dormir. O dia sereno me faz querer desistir. Eu digo novamente: “Que essa seja a última vez.” Deito na cama, fecho meus olhos. E o meu corpo de tudo tentar não quer descansar. Mil pensamentos. Mil vontades. Mil lamentos. Repito mais uma vez: “Que essa seja a última vez.” E sem tomar conhecimento adormeço. Nada sonho. Nada vislumbro. O sol bate na janela. Eu abro os olhos. Percebo que não foi à última vez. E sem muito acreditar digo: “Vamos em frente.” Tudo se repete incansavelmente. O dia corre. E tudo que me ocorre é: “Não posso parar de tentar, vamos em frente.”

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